julho 30, 2010

FECHADO PARA REFORMA


O "noturno" vara a noite silvando surdamente. Carrega em seu bojo seres humanos que roncam, sacolejam a cada grito de um pesadelo íntimo, na ante-véspera da metamorfose.
Companheiros, sem o mesmo destino, ajeitam-se como podem. Homens, mulheres, crianças, esperam o passar do tempo e dos trilhos.
A locomotiva arfa, bufa, despeja fogo, fumaça, fagulhas. Os vagões de madeira estam. E o embate das rodas contra o aço dos trilhos é a sinfonia que abafa o som do universo.
O martelar constante do trepidar do trem hipnotiza os passageiros. Lentamente, aprofundam-se num mundo de lembranças e sonhos.
João busca alívio para a dor da partida, o largar para trás uma cidade, esperanças.
Embarcara de madrugada, na friorenta estação de Mariana. Não havia ninguém para acenar. Carregando solitário suas malas e mágoas, subira rápido no trem, antes que partisse sem levá-lo, como num pesadelo...
No vagão repleto e escuro, vê rostos cansados, a palidez do sono, olhar esgazeado do sonâmbulo, o desespero estampado na face do insone.

E Paulo permanece longo tempo na praça, sentado no banco de granito. Abatido. Não adivinhava sua próxima "tragédia", ir para um seminário. A revelação maior ressoava aos seus ouvidos: "Estou grávida!"


Cabisbaixo, à espera do trem que vem do Rio de Janeiro, Paulo é praticamente despachado como uma encomenda. Mal a composição pára pula para dentro do vagão, alheio ao movimento dos passageiros. Despedidas ríspidas, ressentidas. O trem dá a partida. Vira-se para o companheiro de plotrona. Dorme. Alivia-se. Não deseja falar, sorrir, ser cortês, com ninguém, até o fim da viagem.

SEMINÁRIO DE MARIANA, destino comum dos dois.

Rose passa os dias à janela. Como toda jovem de Mariana sonha com outras terras, paragens, conseguir um bom casamento. Meiga, educada, filha única de um casal tranquilo, de vida bem assentada e de tradicional família da cidade. Recatada, distrai-se em conversas com amigas. A maior ousadia, é desfilar no "footing" após a missa de domingo na Catedral da Sé. A diversão delas é flertar com rapazes galantes. Participa dos corais da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Vive num mundo de fantasias, o tempo passando lentamente. Vibra com o nascer do sol e se enternece com o crepúsculo. Nos dias de chuva acompanha o correr das águas pelo calçamento de pedras pé-de-moleque, observando os círculos formados pelos pingos nas poças, o gotejar das telhas. Inspira com deleite o cheiro úmido da chuva, arrepia-se com frio. Exitada, molha o rosto com os respingos. Em noites insones observa as estrelas, o firmamento, o universo. Como das outras vezes, à espera do inusitado, em noite de lua cheia, brilante, instigadora da imaginação. Escuta pisadas apressadas. Um sombra, esgueirando-se pela rua deserta. Deseja detê-lo. Curiosa em saber do que foge, debruça-se na janela. Um vento fino bate no rosto, mexe-lhe os cabelos soltos. A leve camisola tremula sobre o corpo delgado. O estranho aproxima-se desajeitado, cambalente. Tropeça e cai. Depois de algum tempo ajeita-se, sentado na calçada. Receosa, mas querendo fazer contato, assovia. Ele mal levanta a cabeça. Assovia novamente, expondo-se mais, abrindo de todo os batentes. Nota o olhar ansioso dele. Enrubesce ao ser localizada. Refugia-se, emoldurada pela escuridão do quarto. puxa a cortina.






julho 14, 2010

O ROMANCEIRO DA COPA

Abertura

Por onde andará você
FÁTIMA BERNADES?

Segundo dia

Onde está você FÁTIMA BERNADES?

Dias depois

Cadê FÁTIMA BERNADES?

Seria:

Cadê você KáKa?
Cadê você Robinho?
Cadê a bola? O gol?
Cadê o jogo?

Poderia ser:

Cadê Ronaldo? Ronaldinho?
e até PELÉ!!

Ou:

Cadê a COPA?
O HEXA?

AFRICA DO SUL!?

Vocês viram a Fátima Bernades?


PRÓXIMO CAPÍTULO

BYE, BYE

RICARDO TEIXEIRA