junho 22, 2011

A PRIMA (Trecho de "Fechado para Reforma)

- Lá vem sermão.

- Não é sermão não, que para padreco arrependido não adianta. Me desiludi, vendo você sem rumo, bebendo por amores perdidos.

- E qual a importância disto para você?

- Muita, me deixava arrasada! Ver como se destruia. Fiz de tudo para ajudá-lo.

- Tudo, mesmo?! – Tenta brincar, mas ante o encarar da prima retrai-se. – Sim... poderia.

- Pronto, foge, foge! Se fecha como uma tartaruga.

- É que você sempre me vence. Domina.

- Não é esta minha intenção. Não quero derrotá-lo, nem vencer, quero sua felicidade.

- Ana, gosto muito de você, eu queria... mas...

- O velho impasse, não é João?

- A barreira!

- Era só derrubá-la. Veria que estava do outro lado, a espera.

- Ana, tão fácil assim?

- As oportunidades passaram, perdeu o momento. Tarde demais.

- O que é tarde demais?

- Cinismo não. Eu amo você! Será tão cego assim? Ou não me ama e banco a tola?

- Somos primos, primos, Ana. – Fica repetindo como um realejo - primos...

- Isto é o que colocaram na sua cabeça.

- Crescemos juntos, como irmãos, companheiros de brincadeiras, de aventuras. Lembra-se das domingueiras no clube.

junho 09, 2011

CASA DA GÁVEA (Trecho de Fechado para Reforma)

Um suor frio cobre-lhe a testa. Passa mal, o grito de socorro preso na garganta. O padre continua a falar. João não entende nada. Baixa a cabeça desalentado.

-... e assim, meus filhos, Deus está convosco nesta casa!

Terminara a palestra. João reencontra-se com as últimas palavras. Senta na cadeira perto da janela. De relance, através da vidraça, vê a folhagem matizada pelos raios solares. Recosta-se no alto espaldar de couro. Relaxa.

Paulo me salvará, perguntarei a ele o que o Reitor falou.

Entra um religioso. Carrega uma pilha de livretos de capa preta. O silêncio domina o salão. Os futuros seminaristas permanecem em posição respeitosa.

- Não podemos falar mais? - Indaga-se assustado.

- Tome meu filho, é o breviário. – Diz o padre solene.

- De agora em diante será seu guia diário.

João recebe o manual. As cenas confundem-se.

- O outro era menor... – lembra-se ao tocá-lo. -“A Imitação de Cristo”.

João obedecia com fé a rigidez das regras do retiro. Manter silêncio, rezar e meditar. Não se entediava com o comportamento contemplativo. Apreciava também os momentos de descontração com os companheiros. Os jovens corriam pela mata para relaxar da rotina de devoção e deveres litúrgicos. Aproveitam o frescor das sombras das árvores frondosas. Rolavam na relva úmida trocando furtivas carícias. Alguns exitados, masturbavam-se, iniciando os menos experientes. Outros sentavam-se nas pedra às margens do rio cochichando....