agosto 28, 2022

 



O mar,

quando calmo

a nau repousa

aguarda a maré

a brisa suave matinal

acaricia o rosto

num promissor despertar

o mar tranquilo                                                                                                                              

envolve-nos numa redoma

uniforme e apaziguadora

de branco-prateado

as gaivotas circulam ágeis

na conquista do espaço

pássaros entoam uma sinfonia

num pio de vida

a natureza transpira

amor e paz


fevereiro 16, 2020

Cândida de Gusmão Cerqueira de Menezes

Cândida de Gusmão Cerqueira de Menezes


      Nasceu na cidade de Campos (RJ), em 17 de julho de 1901, e mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, dedicando-se à atividade como Cândida.
      Matriculada no Liceu de Artes e Ofício, em 1918, inscreveu-se, posteriormente, na Escola Nacional de Belas Artes.
     A pintora Cândida viveu intensamente os movimentos de renovação artística das décadas de 20 e 30, época em que integrou os grupos que fundaram o NÚCLEO BERNARDELLI e a Associação dos Artistas Brasileiros, e participou dos movimentos de apoio à Casa dos Artistas.
Do livro Núcleo de Bernardelli – Arte Brasileira nos anos 30 e 40, de Frederico Morais – Edições Pinakotheke, ressalta-se a afirmação de Edson Motta, primeiro presidente do Núcleo: “...graças à compreensão de um grupo de moços, resolvemos levar a efeito uma jornada na qual provocamos os rumos que serão plantados nesta época de renovações esperançosas, que, cremos nós, determinará a grande época das artes brasileiras”, dizendo, sobre a pintora: “Cândida Cerqueira foi sempre muito ativa nas manifestações do Núcleo contra a pressão dos grupos acadêmicos encastelados no Salão Nacional de Belas Artes e na própria escola”.
    Caracterizou-se como paisagista. Em longo comentário, publicado no Diário de Notícias de 29/01/1933, Elze Massa destaca a obra de Cândida Cerqueira, que “mais uma vez comprovou a largueza de inspiração e a coragem de feitura, notando-se a acentuada energia nas paisagens, onde as árvores nervosas parecem viver na plenitude da selva. Esta pintura se caracteriza pelo lilás. É um toque de melancolia no entusiasmo de nossas cores”.
Concorreu em várias exposições coletivas, como Salão Oficial de Belas Artes, Salão Nacional de Belas Artes, Salão Nacional de Arte Moderna a partir de 1961 até 1964, Salão Fluminense de Belas Artes, Salão Paulista, Salão Carioca e Feira Mundial de New York (1939). Realizou várias exposições individuais, inclusive algumas com seu esposo, também premiado pintor, José Barreto de Menezes (J.Menezes).
Obteve os seguintes prêmios no Salão Oficial do Rio de Janeiro: Menção Honrosa, Medalha de Bronze e Prêmio Ilustração Brasileira. No XLIII Salão Nacional de Belas Artes, em outubro de 1937, recebeu medalha de Bronze, por unanimidade, com a obra “ESTALEIRO NITERÓI”.
Cândida integrou o grupo de jovens pintores na EXPOSIÇÃO DOS CINCO, que, de acordo com Paschoal Carlos Magno, iniciou um movimento pela renovação nas artes, no final de 1930, com o objetivo de “criar qualquer coisa de novo, de flamejante, qual se não quebrasse, ao menos agitasse, o marasmo artístico do momento”; e, em janeiro de 1933, destacou-se na EXPOSIÇÂO DOS SEIS ARTISTAS promovida pelo Studio Eros Volúsia.
    Participou, ainda, da exposição “EVA NO SALÂO DE 1926”, na Escola Nacional de Belas Artes e, ativamente, como Secretária do Departamento Feminino, da organização dos 1˚ e 2˚ SALÕES FEMININOS DE BELAS ARTES promovidos pela Sociedade Brasileira de Belas Artes (junho/1931 e Julho/1939, respectivamente).
Mais um prêmio de Cândida: a medalha de Bronze no Salão Municipal de Belas Artes, em 1954, organizado pela Sociedade Brasileira de Belas Artes, com o trabalho “LENHADORA”.
Em setembro de 1931, com a presença da Sra. Getúlio Vargas, Darcy Vargas, e em homenagem a Olavo Bilac, teve, na redação da revista Flamma, u’a mostra dos seus quadros na Quinzena Cândida Cerqueira.

    Cândida faleceu no Rio de Janeiro, com 93 anos, em 29 de junho de 1994.

    Ela nos deixou um legado: sua luta pelo reconhecimento do valor do trabalho da mulher, que pode ser avaliada pelo depoimento ao jornal Diário de Noticias, em 12 de junho de 1931: “O Salão Feminino, que pela primeira vez se effectua no Brasil, é mais uma das manifestações de pujança do idealismo feminino dos últimos tempos: idealismo que se vae concretizando na cultura da inteligência e na applicação dos sentimentos estheticos. A alma da mulher sempre sensível ao bello, não se limita, agora, a admirar, quer também criar. E os seus dedos de fada, que sabem dar forma e movimento ás impressões da natureza que mais a abalam e emocionam. Estou certa de que a iniciativa do Salão virá emprestar um novo estímulo e um forte impulso ao temperamento da mulher pintora, em minha Pátria; e elle, animado pelo publico e pelos grandes nomes de ellite, sentirá toda a coragem de que o talento precisa para expandir-se em obras de artes”.

Pesquisa de César Cerqueira.
Texto de Flavio Cerqueira
Rio, julho de 2009.

MEDALHA DE BRONZE - SALÃO DE 1937

dezembro 20, 2016

RECORDAÇÕES



A sinfonia

das mãos

com cigarro na mão

fazem

na noite

a poesia

o motivo

de algo

que não sei





                               VOCÊ

Porquê passastes hoje por mim
deixando uma fragrância de saudade
no momento em que me sentia mais só?

Porquê me deixastes tempos atrás
Sem sequer um sinal de adeus
A mim sem dor e sem glória?

Porquê mudastes de pouso um dia
partindo sem destino
e eu triste à sua procura?

Porquê o encontro agora
como se nada houvera
e o tempo decorrido?

Porque os carinhos trocados
Num encontro fortuito

Sem promessas de retorno?



Ontem era você

Em rua esquecida

Alma fendida...

Hoje sou eu

Que em ilusão

Procuro, quem sabe

A traineira

Pois tenho certeza

Que nela embarcaste

Deixaste a saudade

A ilusão, a incerteza...



Alguma vez você já viu uma traineira?
Uma embarcação pequena, robusta, que vai singrando calmamente os mares?
De longe ao contemplá-la dá uma sensação de paz e ternura. A traineira vai saindo devagarinho pela baia, as aguas calmas e ela suavemente, cortando-as rumo ao mar.
Suas bandeirolas, seus mastros de cargas, sua proa altaneira. Ela vai ao largo nos convidando para uma volta ao mundo.
De perto a ilusão passa, proximidade, quente dos seus motores que vivem e vibram emoções, intimo é um turbilhão de paixões. Os marinheiros enfeitiçados lutam pelo seu carinho e fidelidade. A mansidão se transforma em convites de aventuras e noites de volúpia.
Ao longe, na calmaria de sua ostentação, mostra as cores brancas, lembrando a alvice das moças virgens. Cercada de azul por todos os lados, sentimos seus cores quentes e fortes, de lábios de amantes sequiosas.
Oh! Que desespero nos causa o seu afastamento para outros rumos, e nós marinheiros notívagos, ficamos no porto da saudade esperando a sua volta, despertando sonhos inebriantes de ternura, de paixões e amor.
Assim como a traineira parte para outros pontos a vejo todo dia, embarcando para outro destinos.  



novembro 14, 2016

POESIAS ANOS 70


ODE A UMA ESTRELA SOLITÁRIA

Olhando o límpido céu
sentimos a necessidade do canto
quebranto
mensagem para o ente querido
Contemplando os astros
por mais inumeráveis que sejam
descobrimos uma estrela
solitária
que poderá ser a nossa
fonte dos desejos
ofuscado pelo brilho
deslumbrado pela beleza distante
procuro entrar em contato
forço a mente
escuto o meu coração
Será que meu bem querer está a escuta?
Piscando sempre
parece receber a mensagem
Passado o tempo
noites após
escuto a sua voz
eco de meus sonhos
acostumei-me ao diálogo
mas percebo que a minha estrela
está cada vez mais solitária.
                                                                
                                                           20/07/1970




UTOPIA

Numa manhã distinta
em que o sol me confundia
eu lembrei o mundo, irmanado

do lado de lá, distante,
no poente, oriente
se cultivava a amizade
e até permutava a produção

do lado de cá, próximo,
no nascente, ocidente
se transformava a mentalidade
a cultura foi promovida a tom maior
deixou de ser meio tom

sol, você que é divino-maravilhoso.
que notícias trouxe para mim!
aconchego no oriente
aconchego no ocidente
bandeiras se misturando
num festival de cores
antes, guerra de bombas
hoje, só de amores

pretos e brancos
na maior enturmação conjugal
bandidos e mocinhos deixarem de ser heróis
agora, só as formigas são alvo das atenções


metas e planos é passado
Estratégia, coitada, caiu do andaime
e o dinheiro,
este infiel amigo do homem,
caiu de cotação


a vida nesta manhã me parece outra coisa
talvez, um sorriso terno de uma criança
um beijo erótico na praia
uma verdade consumida
absorvida
me pareceu até o cortejo fúnebre da televisão
me pareceu que jesus cristo ressuscitou
em todos os homens
era como se todos conhecessem a si mesmo
naquela manhã distinta
em que o sol confundia

                                                                  23/10/1970


setembro 19, 2016






CLASSIFICADOS
     ASSASSINOS
    ASSIM
           ASSASSINOS
      SS

IMPRENSA
     PRENSA
     PRENSADA
EMPRESA

DEMOCRACIA
DEMÔNIO
                DURA
     DITA DURA 


                                                 27/05/1970


TRÓPICOS

Os claros dias de sol de minha pátria
impressionam pressionam
ardentes desejos e fantasias
terra dos trópicos
onde canta o sabiá
e coqueiro dá côco
ardorosas vozes gorgeiam
ufanando-se do país tropical
trópicos tropical tropicalismo


Os claros raios de sol
dourados dourando
eldorado da volúpia
banhado pelas cálidas águas oceânicas


Os claros dias de sol de minha pátria
molestam atestam
porvir um dia por vir
e vamos eufóricos
fantasmagóricos
elixir paregórico
em busca do tempo perdido
As minas de ouro secam
aprofundam-se nas entranhas da terra
chafurdam nos veios auríferos
a paga do anti-herói
Poeta
ora pois pois
quem pôs ovos de codorna
no ninho de águias?
Interrogatório senil
num dia juvenil
anil
varonil
til


Os claros dias de sol de minha pátria
definem indefinem
olho por olho dente por dente
alho com cebola
tim-tim por tim-tim
tinem as taças dos campeões
deixando as agruras para trás
zás-trás
traça traçando caminhos
para as gerações futuras do meu país
nos campos verdejantes
nas altas montanhas
nas imensas praias
Nada como um dia de sol
após o outro
com uma noite quente no meio



Os claros dias de sol de minha pátria
suscitam ressuscitam
as almas combinadas
alçando novamente a esperança
de encher a pança
Sancho Pança
lança
carregando a espada do espadaúdo cavaleiro
mudado transmudado
lerdo pelo peso da inércia
ora achado momento
machado



O sol brilha no nascente
tinge de cores o poente
é chegada a hora da semente
não na mente somente
mas nos campos asfaltos casebres edifícios
choupanas pensões hotéis palácios nas casas
nas casas dos homens
frutificando o amor.

Glória na terra aos homens de boa vontade.

agosto 17, 2016

A TOCHA





Cadê o meu verso?
Está no meu coração!
Rasgue seu peito, e tire-o para me mostrar.



Refutações
refutantes
refutáveis
refuta
refutação
refutável
refutante
refuto
refutado
refutada
refutações


VÉSPERA DE NAUFRÁGIO

Eu já conheci muitos portos
muitos mares foram navegados
horizontes anuviados
Muitas vezes  o sol brilhou no límpido azul
mas sempre o mar revolto
a fúria contida das marolas
as marés renovadas
Em cada margem
em cada ponta de praia
um sonho de amor
E o Navio Holandês
sempre a prumo
navegando
mesmo sem rumo
ao sabor dos ventos
e do amor
O Navio Holandês
retorna aos mares
e navega altaneiro
as borrascas passam
e seu valor realça
Os mares inavegáveis
O eterno desconhecido
são sua bússola
seu leme
Nas trevas brilha sua decisão
na luz
bem
na luz navega desapercebido
O Navio Holandês
uma vida
um navegar constante
novos portos
novos amores





PALÁCIO ENCANTADO


O casebre onde moro
- Meu palácio encantado -
oscila e treme
tremelica
balança
na beirada do penhasco
soprado pelos ventos
trespassado pelas chuvas
aponta no pico abrupto
escutando os uivos dos humanos
e os latidos dos inumanos
lá em cima perdido
tremendo mais que caniço de cana
tremendo como milharal
meu casebre
- Palácio encantado -
            desponta como um guardião das incertezas
de frágil estrutura
firme na decisão de permanência
de querer ver as coisas alquebrantadas
perecível imperecível
taciturno
isento de vinganças
rola a ribanceira
transformando em bola de neve a miséria
que chafurda na encosta
O casebre onde moro
- O meu palácio encantado –
permanece inquebrantável



                                           
                                  O ENGANO

nada mais viu
tombou
“por engano” diz o assassino
como se hoje morresse alguém por engano
pobre jovem
que no escuro ninguém percebia
e de tarde morreu por engano

para que a bomba
se existe a FLOR