junho 25, 2010



INDICE DE AUTORES E PEÇAS DA DRAMATURGIA BRASILEIRA.

CERQUEIRA, Flavio (1935)

Raio de Sol

Drama/ 2 atos / 1 masc. 1 fem. / Séc XX
Soc. urbana / Capitalismo / Problemas existenciais

SINOPSE

Ricardo, um poeta jovem e promissor, está mergulhando em profunda crise existencial. E passa os dias fechado no seu "sótão" escrevendo e assitindo a torturantes programs de televisão. Zaira, sua paixão, vai um dia visitá-lo e entre os dois se trava então o diálogo que marcará o inicio da Redenção de Ricardo. Através de suas conversas com Zaira, Ricardo percebe que nunca realmente "se abriu" para os outros; que sempre se relacionou com os outros através de uma armadura de caráter. E assim parte para uma autoreformulção. Pouco a pouco, suas relações com Zaira vão ficando mais íntimas, vão ganhando solidez, até que, num final em que Ricardo se declara aberto para a vida, e atribui isso a uma vitória mais geral que se pronuncia, os dois acabam se unindo moral e fisicamente ( despeito de Ricardo já ser casado). Em bases tais que aberto o caminho para o desenvolvimento pleno da sua capacidade de homem sobretudo de escritor.

RAIO DE SOL


CENÁRIO: Um sótão adaptado para estúdio. À esquerda, uma parede lisa com alguns quadros ou tapeçaria. No fundo, do mesmo lado, uma porta meio encoberta por um biombo que divide o espaço perpendicularmente, uma estante com livros, TV/telão (aparelho não funciona como televisão, serve de extensão do computador para projeção de imagens) e pequenos objetos de arte. Alinhado ao biombo em estrado (cama turca) forrado com acolchoado e almofadões. Completam a cena, uma potrona, um abajur de pé, e à frente, na lateral direita, uma bancada com computador e todos os acessórios, uma TV largada num canto, coberto por jornais e revistas. Na lateral direita uma cortina cobrindo um janelão que vai até o teto e termina com um tipo de clarabóia. A iluminação ambiente é de penumbra com focos de luz (abajur).

PERSONAGENS: Ricardo
Zaira e Lena (mesma atriz)
A ação passa-se no Rio de Janeiro,
na atualidade.

RICARDO - (remexe em pastas) Que bagunça! Assim não dá! Como vou achar alguma coisa? Perco horas arrumando esta papelada. O melhor é rasgar. Botar fora. Lixo! Pô, achei! (Senta em frente ao micro. Massageia as mãos). Pronto, vamos à luta. (liga o micro). Comporta-se direitinho. Não vá engolir meus textos. Gastei um tempão ontem. Reescrevi, salvei e pimba, sumiu tudo. Temperamental! Ligou? Tudo em cima? (acaricia o micro). Vmos lá! Ih, está diferente. Fui eu ou você? (enquanto usa o mouse recitando o texto) MAR AZUL. O corpo dourado. Os longos cabelos revltos ao ar. Se aproxima... epa, miquita, não vai me trais agora, não troque minhas palavras. A idéia é essencial, o enredo. MAR AZUL/AZUL MAR. Um sussuro... do mar? (Zaira entra sem ser notada por ele. A luz aumenta gradualmente). MAR AZUL/ AZUL MAR. Um despertar mágico. O sol brilhante no horizonte. AZUL MAR/ MAR AZUL.

ZAIRA - Bravo! Bravo!

RICARDO - Você me assutou!

junho 13, 2010

O Prisioneiro de si mesmo


Como surge a rebeldia?
Ao olhar a sua volta e ver os grilhões cerceando passos, obras inacabadas, projetos arquivados. De nada adianta a tristeza, a impotência contra os fatos. Como ressurgir? Reagir? Prosseguir?
A melhor coisa é dar meia-trava. Sentir a tortura da estagnação. As dores. Decidir balançar o corpo. Agir. Que tal respirar, deixar fluir o sangue, mexer braços e pernas?
Selecionar!

O que é isto? Selecionar. É mais uma forma de aprisionamento. Escolher o que deve ou não ser feito. Perda de tempo, material e saúde.
Ousadia.

Ousar violentar o corpo. Livrar a mente de pensamentos tortuosos, dúvidas, temores.
O que virá? Não importa. Não interessa.
Medo?

Perder o medo. Medo de fazer xixi na cama, nas calças. Medo de se mostrar, de se exibir. Medo de subir e descer. Medo de falar. Medo de cair. MEDO...
Abismos e vulcões são acidentes geográficos. As erupções dos vulcões são manifestações internas, que liberam energias. Agitam céus e mares. Convulsionam a Terra. A repressão mantida ocasiona tensão insuportável. Explosões físicas e emocionais. Algumas trazem tragédias, outras belezas e umas, se transcendem em história. O VESÚVIO.





O transito estava super congestionado. Os carros moviam-se lentamente. Maristela afligia-se, via a entrada do Túnel Novo, e nada de andar. O motorista do táxi querendo ser agradável puxava assunto com seu sotaque nordestino.
- É, madame, deve ser uma batida feia. Não dá para desviar. A senhora tem carro? – não dava tempo nem para responder. – Tem carteira? Pois é, nunca pare junto ao meio fio. É perigoso. Tem muito bandido por aí. Hoje em dia não se pode bobear. Veja só, madame, eu sou matador de aluguel e não marco bobeira. Tenho mais de duzentos serviços, bem feitos, sem deixar rastro. Nunca me pegaram. É uma blitz, – Maristela empalidece - dentro do Túnel, incrível. Vou deixar meu cartão. Se precisar.
Os carros passam um a um. Maristela pensou no que fazer. Vê o RIO SUL:
- Moço, dá uma parada aí.
- A senhora não ia para o aeroporto?
- Me lembrei que preciso comprar roupa para a viagem.
Salta do táxi apavorada, as pernas bambas.
- Será que ele percebeu alguma coisa? – resmunga. Aflita olha para os lados. Acabara de atirar no marido. Mal tivera tempo de pegar sua bolsa. Passou pelo corpo dele, estirado no chão. Virou o rosto para não ver o sangue. Sobe as escadas rolantes e se refugia no primeiro banheiro que encontra. Sua frio, com vontade de vomitar. Lava rápido o rosto. Felizmente tem poucas pessoas. Percebe que elas a fitam. Tranca-se no reservado. Suspira aliviada. O celular toca.
- Oh, mãe, esqueci as crianças na escola. Obrigada. Mais tarde pego elas em sua casa. Agora não posso falar.
Levanta-se da privada e abre a portinhola. Tem fila. De cabeça baixa, desculpa-se. Sai do banheiro afogueada. O corredor está gelado. Senta num banco e procura relaxar. Olha os vestidos na vitrine. Pega o celular na bolsa. Por algum tempo olha o visor. Aperta as teclas. Atendeu.
- Fernando, preciso da sua ajuda!