Os “flashes” espoucavam. Nada
adiantaram as ordens do Inspetor Genet. Os repórteres invadiam a mansão por
todos os lados. O crime ocorrido era um ótimo prato para os jornais.
Aparentemente envolvia grandes figuras da sociedade. A vítima era pessoa de
confiança de dois artistas do cinema francês mundialmente conhecidos que
estavam sempre nas manchetes. As revistas especializadas traziam comentários e
reportagens sobre a vida e o cotidiano de Claude e Denise Fontain. Secretário
do casal, às vezes, protetor, Antonin Marov era bem relacionado no meio
artístico e social. Jovem ainda, possuía uma ótima compleição física, campeão
de atletismo em sua terra natal. Natural da Romênia, imigrou para a França,
conseguindo logo emprego na indústria cinematográfica. Devido a sua destreza e
belo porte, de figurante passou a “double” de Claude Fontain nas cenas de
perigo e ação. Em consequência da grande atividade do ator, foram morar juntos,
o que prejudicou a carreira artística de Marov, que se dedicou inteiramente a
protegê-lo e a prestar-lhe pequenos serviços. Quando Claude casou-se com
Denise, Marov os acompanhou para a nova residência e passou também a prestar
assistência a Denise. Pouco tempo depois começaram a surgir mexericos nas
colunas sociais dos jornais. Enquanto Claude viajava para os Estados Unidos ou
Inglaterra, Marov fazia companhia a Denise, provocando comentários maldosos.
Aparentemente, não abalava a amizade entre os três. Apareciam juntos nas boates
e casas noturnas da moda para desfazer os boatos. Eram fotografados sempre
sorrindo e brincando. Nada parecia atrapalhar aquela felicidade. Ficavam apenas
os rumores como pesadas nuvens a trovejar, ameaçando descarregar seus raios.
E agora a tragédia acontecera.
Antonin Marov, conhecido como Toni, tombara com dois tiros no peito. Um deles
foi mortal, atingindo o coração e alojando-se nos pulmões, enquanto o outro
atravessou a caixa torácica, saindo pelas costas. A arma de pequeno calibre, de
uso pessoal, para tumultuar a investigação, pertencia ao morto. Encontrada
perto dele e ao alcance de sua mão. A queimadura no tecido da roupa e na pele
demonstrava que os disparos haviam sido feitos a curta distância. À primeira
vista poderia dar impressão de suicídio. Mas o mordomo garantia ter visto uma
mulher sair velozmente de carro. Não podia informar a placa, mas deu algumas
informações à polícia que facilitariam a busca.
O primeiro emaranhado de dados
perturbava um pouco o diligente Inspetor da polícia francesa, Sr. Genet,
olhando a movimentação dos repórteres. Ouvindo um comentário ou outro, tentava
deslindar o fio da meada.
Os jornalistas corriam para as
redações, sequiosos de divulgar as notícias. As manchetes do dia seguinte
seriam sem dúvida as mais desencontradas. Mil suspeitos, figurões envolvidos,
maledicências e muitas fotografias do local do crime, da vítima, de Claude e
Denise Fontain. Os jornais venderiam muito e salvariam algumas tiragens.
Realmente, era uma notícia para primeira página.
A calma voltou à casa dos
Fontain. O Inspetor Genet fez uma última vistoria, pegou suas anotações, ditou
as ordens finais de proteção ao local e, tão logo retiraram o corpo, colocou
seu pesado casaco, ajeitou o chapéu na cabeça, deu um aceno para os guardas e
saiu, silenciosamente.
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