agosto 17, 2014

AFFAIRE

Os “flashes” espoucavam. Nada adiantaram as ordens do Inspetor Genet. Os repórteres invadiam a mansão por todos os lados. O crime ocorrido era um ótimo prato para os jornais. Aparentemente envolvia grandes figuras da sociedade. A vítima era pessoa de confiança de dois artistas do cinema francês mundialmente conhecidos que estavam sempre nas manchetes. As revistas especializadas traziam comentários e reportagens sobre a vida e o cotidiano de Claude e Denise Fontain. Secretário do casal, às vezes, protetor, Antonin Marov era bem relacionado no meio artístico e social. Jovem ainda, possuía uma ótima compleição física, campeão de atletismo em sua terra natal. Natural da Romênia, imigrou para a França, conseguindo logo emprego na indústria cinematográfica. Devido a sua destreza e belo porte, de figurante passou a “double” de Claude Fontain nas cenas de perigo e ação. Em consequência da grande atividade do ator, foram morar juntos, o que prejudicou a carreira artística de Marov, que se dedicou inteiramente a protegê-lo e a prestar-lhe pequenos serviços. Quando Claude casou-se com Denise, Marov os acompanhou para a nova residência e passou também a prestar assistência a Denise. Pouco tempo depois começaram a surgir mexericos nas colunas sociais dos jornais. Enquanto Claude viajava para os Estados Unidos ou Inglaterra, Marov fazia companhia a Denise, provocando comentários maldosos. Aparentemente, não abalava a amizade entre os três. Apareciam juntos nas boates e casas noturnas da moda para desfazer os boatos. Eram fotografados sempre sorrindo e brincando. Nada parecia atrapalhar aquela felicidade. Ficavam apenas os rumores como pesadas nuvens a trovejar, ameaçando descarregar seus raios.
E agora a tragédia acontecera. Antonin Marov, conhecido como Toni, tombara com dois tiros no peito. Um deles foi mortal, atingindo o coração e alojando-se nos pulmões, enquanto o outro atravessou a caixa torácica, saindo pelas costas. A arma de pequeno calibre, de uso pessoal, para tumultuar a investigação, pertencia ao morto. Encontrada perto dele e ao alcance de sua mão. A queimadura no tecido da roupa e na pele demonstrava que os disparos haviam sido feitos a curta distância. À primeira vista poderia dar impressão de suicídio. Mas o mordomo garantia ter visto uma mulher sair velozmente de carro. Não podia informar a placa, mas deu algumas informações à polícia que facilitariam a busca.
O primeiro emaranhado de dados perturbava um pouco o diligente Inspetor da polícia francesa, Sr. Genet, olhando a movimentação dos repórteres. Ouvindo um comentário ou outro, tentava deslindar o fio da meada.
Os jornalistas corriam para as redações, sequiosos de divulgar as notícias. As manchetes do dia seguinte seriam sem dúvida as mais desencontradas. Mil suspeitos, figurões envolvidos, maledicências e muitas fotografias do local do crime, da vítima, de Claude e Denise Fontain. Os jornais venderiam muito e salvariam algumas tiragens. Realmente, era uma notícia para primeira página.
A calma voltou à casa dos Fontain. O Inspetor Genet fez uma última vistoria, pegou suas anotações, ditou as ordens finais de proteção ao local e, tão logo retiraram o corpo, colocou seu pesado casaco, ajeitou o chapéu na cabeça, deu um aceno para os guardas e saiu, silenciosamente.




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