Luigi rebelou-se.
Resolveu esquecer Sylvia. Discou um número qualquer para convidar uma garota
para sair. Na terceira chamada atenderam, e ele buscando uma voz tranquila e
envolvente perguntou:
-Olá, quem
fala?
- ...
Emudeceu. Era
Sylvia quem respondia. Não conseguia tirar o fone do ouvido e nem falar. Espanto
total. Angustiado, desligou o aparelho. Doutro lado a voz indagava
inquietamente quem era. Saiu do apartamento em busca de liberdade. Andou
durante muito tempo sem conseguir concatenar as ideias. Perdera o rumo dos
passos. Olhou à sua volta para se localizar. Seria o local a que estava
habituado a encontrar Sylvia? Outro engano seria um desastre.
O frescor do
anoitecer melhorou seu ânimo. Uma fome voraz despertou sua atenção. Lembrou-se
de um antigo restaurante especializado em massas, perto dali. Embarafustou por
uma das ruelas e pelo aroma ia se orientando. Entrou no “Albergo Marietta”, tradicional
trattoria com vinhos e queijos pendurados pelas paredes e teto, linguiças e
outros petiscos à mostra. A boca encheu-se d’agua, aguçando-lhe o apetite.
A gentil
garçonete indicou uma mesa de canto. Sentou-se satisfeito da vida. Logo
colocaram à mesa um jarro de vinho, pão fresco e tira-gostos. Enquanto a moça
arrumava os pratos pediu uma suculenta lasanha verde ao molho branco.
Distraído com
a iguaria que pedira, nem notou os olhares de uma jovem. Só no meio da refeição
é que percebeu a presença dela. Bem alimentado e começando a sentir os efeitos
do vinho, afastados os tormentos, começou a interessar-se por ela. Os olhos
lindos, cabelos castanhos, compridos, emolduravam o rosto gracioso. Beirava os vinte anos.
- Seria
interessante um namorico, para distrair – pensou Luigi já bolando um plano de
ataque.
Um grupo de rapazes
a rodeavam alegres. Luigi levantou e ousadamente encaminhou-se para a outra
mesa. Admirado viu que a moça virava-se frontalmente para ele, como para o
receber, evitando assim uma situação constrangedora perante seus amigos.
Na manhã
seguinte acordou com uma preguiça enorme. Ainda guardava a lembrança da noitada
alegre e descompromissada. Realmente Angélica era encantadora e o fez esquecer
todas as agruras que havia passado nos últimos dias. Namorara inocentemente
como há muito tempo não fazia. E sentiu um pequeno remorso pela sua leviandade.
Sabia que não poderia levar avante aquele namoro. Resolveria o caso, sem magoá-la,
antes que se envolvessem mais.
E de repente,
em meio aos seus pensamentos gritou: - Santo Deus, esqueci-me de Sylvia. Tenho
de ir à estação!
Levantou feito
um louco, tropeçando nos móveis e roupas espalhadas pelo chão.
- Oh! Luigi,
pensei que não viesse, o que aconteceu com você?
- Desculpe-me
Sylvia, mas é que fui dormir tarde e perdi a hora.
- Pela sua
cara foi uma farra e tanto.
- Não brigue
comigo agora, estou tão feliz!
- Nota-se!
- Você nem
pode adivinhar o que me aconteceu. Encontrei ontem uma garota celestial. Verdadeiro
milagre!
- Como um
milagre?
Luigi esfriou com
a pergunta. Ia responder quando tocou o primeiro sinal. As pessoas à volta
movimentavam-se para tomar o trem.
O silvo longo
e estridente foi o último aviso. A locomotiva preparava-se para a partida. Os
dois se olhavam silenciosos. Luigi mal podia conter o riso de felicidade.
Sylvia procurava analisar o estranho comportamento do amigo tomada por uma
expectativa enorme, fora do comum.
Um longo
abraço de despedida e Luigi a beijou delicadamente no rosto.
- Minha
tristeza deve ser por causa da partida – pensou Sylvia – é isto, só pode ser
isto, não há outra razão para me sentir assim...
Partia para Veneza
em busca de tranquilidade. A esperança de novos rumos para sua vida, toldada
por um sentimento até então desconhecido.
O tempo passou,
os trilhos correndo aos seus pés, o barulho monótono do trem, adormeceu.
Despertou da sonolência
com o toque no braço, era o camareiro alertando para a hora do almoço. E vendo
que a vida continuava levantou:
- Luigi, Roma,
tristezas, ficaram para trás, agora é tratar de me divertir e aproveitar as
férias. Ciao.
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