CAPÍTULO I
Ei, pessoal,
Ardinov está morto!
A
notícia explodiu como uma verdadeira bomba na Sala de Imprensa do Teatro
General San Martin.
Como?
Repita!
-
O que aconteceu?
- Quem
morreu?
- Silêncio! –
bradou alguém – Vamos, acalmem-se, com esta barulheira dos infernos ninguém
ouvirá nada.
Todos se
calaram quando ouviram a voz grave de Morales, o mais antigo dos
correspondentes estrangeiros em Buenos Aires.
Juan se viu o
centro das atenções. Chegara com uma notícia importante e agora fazia um pouco
de suspense.
- Bem, eu... e
olhava para os mais próximos provocando curiosidade – eu vim do Hotel Crillon.
Estive lá bem cedo para entrevistar com Ardinov. Consegui furar o cerco da
vigilância soviética. O corredor estava vazio àquela hora. Era muito cedo
ainda, os hóspedes dormiam. Pude chegar até seu apartamento sem problemas. Bati
na porta com todo cuidado. Ninguém atendia. Sem hesitar nem mais um momento,
forcei a porta, antes que surgisse um empregado do hotel ou agente russo, não
é? Não encontrei nenhuma resistência, ela cedeu facilmente, e...
- Ora, deixe
de fazer romance – interrompeu um.
- Conta logo o
que sabe, Juan – Ordenou Morales, impondo novamente sua autoridade de decano,
quando ia iniciar a balbúrdia – Vamos aos fatos!
- Calma,
contarei tudo direitinho – e procurando valorizar sua ação, continuou solene: -
Entrei no apartamento. A sala estava vazia. Passei para o quarto. Vi Ardinov
deitado na cama. Parecia dormir. Chamei por seu nome. Não acordava. Não fazia
nenhum movimento. Eu precisava da entrevista com ele. Cheguei mais perto, olhei
bem seu rosto e estranhei a palidez. Toquei seu corpo. Estava gelado. Levei o
maior susto da minha vida. Ele estava morto. Sai dali correndo...
Os jornalistas internacionais e
portenhos sofriam de uma terrível dúvida. Permanecer no Teatro General San
Martin ou ir ao Hotel Crillon?
No auge da
confusão os alto-falantes anunciavam o inicio da esperada disputa final entre o
Mestre russo Tigran Petrossian e o americano Robert Fisher.
Na véspera,
Ardinov jogara sob forte emoção. O adversário aproveitava suas indecisões para
jogadas afoitas e decisivas. Na segunda partida já notava-se o descontrole do
russo. Suava muito, e a cada instante enxugava as mãos e o rosto. O nervosismo
aumentava. A assistência acompanhava obcecada a disputa. Ardinov comete uma
falha incompreensível. O americano aproveita para tomar-lhe o peão central. Um
sussurro percorreu a plateia, se transformando num vozerio incontrolável.
- Incrível,
como pode ter feito isto?
- Ele está
descontrolado.
- Deve estar
doente.
- Que nada, o
americano é melhor, e ele está com medo de perder.
- Ele já perdeu.
Esta jogada foi o fim dele.
Preocupados
com a partida, não repararam na presença de estranho “guru” indiano, que
assistia impassível a partida, e muito menos o sorriso esboçado em seu rosto no
momento da infeliz jogada do russo.
- Ardinov, o
que achou de seu adversário? Vai pedir revanche?
- Senhores,
por favor, estou fadigado. Amanhã darei uma entrevista coletiva.
Os mais
persistentes seguiram–no até o Hotel. Todas as tentativas foram infrutíferas.
Despediram-se na porta do elevador e viram quando subiu para seus aposentos.
Ardinov estava
exausto. O semblante demostrava apreensão e temor. Deitou, procurando relaxar o
corpo e espírito. Mal se acomodara no leito, teve um sobressalto. Visita
inesperada surgia à sua frente, uma figura insólita. Não conseguia mover-se na
cama. O estranho o fitava intensamente.
Agora o
público aplaudia de pé a vitória de Fisher. A impetuosidade do americano
vencera a seriedade de Petrossian. Os jornalistas mal se continham. Terminada a
partida correram para a Sala de Imprensa. As edições extras dos jornais já
estavam chegando. Ávidos de informações, disputavam os exemplares distribuídos.
As manchetes estampavam: “MORRE CAMPEÃO RUSSO”.
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